Nos últimos meses nos deparamos com um cenário novo no mercado de TI envolvendo demissões em maior escala. Contudo, estudos indicam que há um crescimento no número de vagas na área e dentre dificuldades de contratação, realocação e revisões em investimentos, surge uma oportunidade importante de reflexão sobre o mercado de TI e a movimentação dos profissionais.

Há mais de três décadas acompanhamos um crescimento acelerado do mercado de TI, mas nos últimos 5 anos esse crescimento foi além de muitas estimativas. A pandemia de COVID-19 influenciou, mas ela apenas desencadeou um cenário que turbinou um mercado que já estava aquecido, motivando empresas a fazerem mais investimentos e ao que tudo indica, agora com o mundo retomando um ritmo “normal”, algumas contas não estão fechando.

Há muitas questões para analisar toda essa movimentação de mercado, e nesse artigo vamos destacar duas:

  • Algumas empresas se acostumaram a escalar desenvolvimento de soluções focando em muitas contratações.
  • A pandemia relembrou ao mundo que os recursos são finitos!

Em complemento a essas questões, houve uma escalada vertiginosa na carreira de muitos profissionais que foram alçados a novos cargos e responsabilidades, o que também gerou em muitos casos um crescimento salarial acima do comum e um desequilíbrio no processo de contratação e manutenção destas vagas entre pequenas, médias e grandes empresas.

Em uma análise superficial podemos deduzir que o movimento de crescimento baseado em contratações e sem uma preocupação com o consumo de recursos pode ser negativo. Por outro lado, essas questões foram importantes para abrir alguns caminhos e romper barreiras, e considerando o cenário atual, mais do que avaliar as questões em si, é importante usar os resultados obtidos nesses movimentos para melhorar a forma de crescer empresas, consumir recursos e inclusive contratar e promover profissionais.

Escalar contratando muitos profissionais!

Considerando o cenário de demissões, é natural agora destacar possíveis erros nessa estratégia, mas vamos refletir um pouco:

Só foi possível experimentar novos métodos e escalas de organização de times, trabalho em equipe, compartilhamento e acompanhamento de informações, uso de ferramentas a nível global, dentre outros, em função de ter havido empresas que adotaram essa estratégia de crescimento. Muitas tiveram sucesso!

Então embora a redução de times seja uma ação indesejada, os pontos citados acima só foram possíveis em função deste modelo de crescimento. Os profissionais que estiveram nesse processo de crescimento tiveram chances únicas de aprendizado, vivência e amadurecimento! Aqueles que precisarão se realocar tem uma boa oportunidade de formatarem esse aprendizado e utilizá-lo em seus novos desafios!

Todo crescimento tem um certo limite, agora empresas e profissionais poderão compreender melhor como lidar com tais limites e fundamentar melhor suas escolhas, sejam as empresas ao definir o número de contratações incorporando um olhar mais humano, sejam os profissionais ao entenderem os riscos envolvidos ao trocarem de empresa considerando também a estabilidade como um critério.

O grande número de contratações pelas empresas não é definido “do nada”. Nós profissionais de TI temos participação nas solicitações de “contrate mais e vamos entregar!”. Esse pensamento por si só, não está equivocado, mas demanda organização e planejamento para que a simples entrada de novos profissionais de fato tenha efeito.

Crescer o tamanho dos times sem medir se isso está aumentando as entregas pode deixar a empresa no escuro com relação a produtividade. É necessário ter visibilidade e clareza sobre o que cada time e profissional entrega de valor na empresa (o que é diferente de microgerenciamento). Tal visibilidade possibilita antecipar decisões que evitem contratações em excesso ou ainda demissões em massa.

Os recursos são finitos!

Parece óbvio dizer que no mundo recursos são finitos, porém na última década no mercado de TI alguns investimentos e planejamentos não consideraram essa questão com a devida atenção, vamos refletir um pouco:

Investir na contratação de muitos profissionais e por vezes elevando a média salarial, requer entender o custo que isso terá a médio e longo prazo e como a empresa poderá arcar com esse custo. Se as soluções desenvolvidas não geram um retorno financeiro, não haverá milagres para fechar as contas e não existe investimento eterno sem um lucro.

Todo uso de recurso computacional tem um custo, mesmo que não esteja impactando no momento. É essencial que durante a fase de crescimento exista clareza sobre o uso de tais recursos, como: infra para rodar as soluções, infra para os profissionais trabalharem, licenças de softwares, serviços terceiros, etc. O crescimento no uso de recursos precisa ser considerado nas decisões e ações tomadas para permitirem um crescimento controlado.

Ambientes legais e atrativos brilham aos olhos dos profissionais e são diferenciais no poder de contratação das empresas. Mas há um custo para mantê-los e deveriam estar acompanhados à estabilidade aos profissionais.

Partindo destas reflexões, podemos concluir que:

  • O momento de demissões faz parte da própria área e mercado de TI encontrando um equilíbrio entre escala e uso de recursos.

  • Escalar focando em muitas contratações não é errado, mas precisa de consistência em outras questões como organização, processos e planejamento das soluções/produtos.

  • Profissionais que participaram deste modelo de crescimento podem usar o aprendizado em novos desafios!

  • Ter visibilidade sobre o valor que times e profissionais entregam e o retorno dado pelas soluções é essencial para estratégia de escala e de uso de recursos.


Muitas empresas que agora estão demitindo provavelmente voltarão a ter períodos de crescimento e poderão voltar a contratar em grande quantidade, mas espera-se que elas aprendam com o cenário atual para fazerem movimentos mais consistentes.

Para os profissionais, é um momento de ser mais sóbrio com relação a como vemos grandes, médias e pequenas empresas. Todas elas também estão aprendendo a como atuar nesse mercado de constante mudança e ainda em grande expansão. Alguns atrativos são relevantes no dia a dia, mas precisam ser sustentáveis e a estabilidade ainda é um ponto importante.

Há uma movimentação das vagas no mercado e mesmo com o grande número de demissões, ainda há um crescimento (Forbes). Estas vagas estão em empresas de médio e pequeno porte, que haviam perdido poder de contratação mas que agora podem ser opções viáveis e estáveis para os profissionais que sofreram com desligamentos. Há também muitas empresas entrando agora no processo de digitalização e precisando de profissionais para conduzir tais processos.

Com relação ao rápido crescimento salarial de muitos profissionais, caberá a estes comprovarem que podem gerar nos seus novos desafios um retorno condizente com o investimento que a empresa fará ao contratá-los, ou se adequar a um cenário mais realista de mercado e remuneração.

A área de TI também se consolidou como um segmento de apoio a outros negócios, o que é uma vantagem já que quando alguns negócios sofrem com crises de mercado ou políticas, normalmente outros surgem e ganham força. Estes novos negócios normalmente demandam profissionais de TI possibilitando então apenas uma migração dos profissionais entre empresas de ramos diferentes.

Essa característica somada a digitalização dos negócios manterá a área de TI em forte crescimento, caberá a nós profissionais compreender a movimentação de mercado e as novas possibilidades, aprendendo com erros e acertos para amadurecer o planejamento e execução de nossas atividades e tornar a área cada vez mais consolidada!

Ainda há vagas para todos, inclusive para novos profissionais!
Temos a oportunidade de ajudar empresas e a área a trabalhar de forma mais sustentável!

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